O que é Fibrilação Atrial?

A fibrilação atrial e mais comum das arritmias cardíacas. Sua prevalência aumenta com a idade chegando a atingir 2% da população em geral e mais de 10% dos adultos acima dos 70 anos.  Esse problema cardíaco pode manifestar-se de varias maneiras. Mais comumente, a fibrilação atrial (FA) pode se manifestar com palpitação irregular no peito, diminuição do rendimento físico, falta de ar aos esforços e dilatação das câmaras cardíacas, como derrame cerebral (AVC).  Na verdade, a FA aumenta o risco de AVC em ate 6 vezes e as consequências e sequelas dos AVCs associados a FA são devastadores e mais graves do quando o AVC ocorre em pacientes sem FA. Cerca de 20% – 30% dos pacientes com AVC tem FA associado ou não ao diabetes e a hipertensão arterial. A FA é, portanto, um grave problema de saúde pública.

 

Como ocorre a FA?

A FA pode ocorrer em pacientes com coração normal mas ela e mais comum em pacientes com pressão alta ou com doença cardíaca. Quando a FA ocorre em um coração normal, trata-se de um problema elétrico exclusivo. Como numa casa onde existe um problema com a fiação elétrica.  Nesses pacientes, e geralmente um foco de arritmia localizado nas veias que drenam o sangue do pulmão para o coração que da origem a FA.  Em pacientes com doença cardíaca, os focos de FA podem se originar em outras regiões do coração e nos pontos onde, por conta da doença no coração, existe cicatriz.

Um vez em FA, a parte superior do coração chamada de átrios, passa a bater com uma frequência de 300 – 400 batimentos por minuto o que resulta numa contração muscular muito fraca: os átrios não conseguem mais se contrair, apenas fibrilam.  Com isso, o fluxo de sangue fica mais lento nos átrios o que aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos nos átrios que ao se soltarem, podem causar AVC.

Os batimentos cardíacos durante a FA são irregulares causando uma sensação de descompasso e palpitação muito desconfortáveis e, na maioria das vezes, facilmente reconhecido pelo paciente. Em alguns casos, entretanto, a FA ocorre sem que o paciente sinta as palpitações irregulares. Apesar de não sentir a arritmia, esses pacientes tem um risco de AVC igual aos pacientes que sentem a palpitação da FA.

A frequência de 300 batimentos dos átrios é filtrada por uma região especializada do coração (o no AV – uma espécie de disjuntor elétrico). A frequência cardíaca observada durante a FA é o resultado da ação desse filtro que deixa passar de 120 a 180 batimentos por minuto. Quanto mais rápida a frequência cardíaca maior o cansaço e falta de ar e maior o risco de dilatação do coração ao longo do tempo.

 

Quais os Tipos de FA?

Existem 3 formas distintas de FA: a paroxística, a persistente e a permanente. A paroxística e aquela que da e passa sozinha enquanto a persistente é a FA que dura de 7 dias a 12 meses e que precisa de uma intervenção para ser interrompida. Nestes casos, ou se utiliza uma droga antiarrítmica ou um choque elétrico no peito (cardioversão elétrico) ou uma combinação de ambos para interromper a arritmia e restaurar o ritmo cardíaco normal. Chama-se FA permanente quando já não é mais possível restabelecer o ritmo cardíaco normal mesmo após diferentes intervenções.

 

Como tratar a FA?

Todos os pacientes com FA precisam de acompanhamento médico. Existem 2 preocupações importantes nesses pacientes: tratar a arritmia e prevenir o AVC.

 

Tratando a Arritmia

Quando o paciente tem FA paroxística ou persistente, o médico tenta primeiro o uso de drogas antiarrítmicas que costumam controlar o problema em até 40% dos pacientes durante os 2 primeiros anos. Com o passar do tempo, o controle com remédios vai diminuindo. Quando os remédios não estão mais funcionando ou o paciente passou a sentir muitos efeitos colaterais, pode-se recomendar a ablação por cateter que consiste na cauterização dos focos de FA localizados dentro do coração.  Para realizar a ablação, um procedimento que é feito com anestesia geral e dura cerca de 3-4 horas, o eletrofisiolgista (médico especializado em arritmia cardíaca) introduz cateteres pela veia da virilha e vai até o coração onde realiza com auxílio de computador o mapeamento e cauterização dos focos de FA (ablação). Em Santa Catarina, a maior experiência com esse tipo de cirurgia esta em Florianópolis com mais de 250 operações nos últimos 3 anos, mas esse procedimento também é realizado em Chapecó, Itajaí e Joinville.

O sucesso da ablação por cateter depende do tipo de fibrilação atrial a ser tratado. Nos casos de FA paroxística, o sucesso e muito bom: cerca de 75% dos pacientes ficam livres da arritmia após um procedimento. Quando a arritmia volta,  a cauterização precisa ser refeita e, nestes casos, o sucesso do procedimento sobe para 90%. Esses resultados são semelhantes nos pacientes com FA persistente quando a arritmia tem até 18 meses de duração. Nos casos mais longos e naqueles com FA permanente, o sucesso da ablação não chega a 40%. Por isso, quanto mais cedo o procedimento for realizado, melhor. Após a ablação, não há necessidade de tomar drogas antiarrítmicas e, em muitos casos, o paciente também pode parar o anticoagulante.

 

Como Prevenir o AVC

O risco de AVC nos pacientes com FA varia com a presença de outros fatores de risco como pressão alta e diabetes (Tabela 1). Quando maior o número de fatores de risco, maior a chance de AVC. A cada fator de risco, se atribui um número de pontos e quanto maior o número de pontos, maior o risco de AVC. Nos pacientes que têm mais de 2 pontos, é indicado o uso de anticoagulantes para afinar o sangue. Esses medicamentos são muito eficientes na redução do risco de AVC, mas aumenta o risco de sangramento.  Quando o risco de sangramento é muito grande (pode acontecer hemorragia cerebral), é recomendado o uso de um filtro especial que é colocado dentro do coração a partir das veias da perna que previne a formação do coágulo do coração e diminui o risco de AVC.  No momento, esse dispositivo só está indicado nos pacientes que não podem tomar o remédio anticoagulante, uma decisão que deve ser tomada em conjunto entre o médico e o paciente. Os pacientes que fazem uma ablação com sucesso e têm o escore de risco menor que 3 e nunca tiveram AVC, precisam tomar anticoagulante por apenas 2-3 meses após o procedimento. Depois desse tempo durante o qual ocorre a cicatrização das cauterizações cardíacas, o anticoagulante pode ser interrompido.

 

Saiba se você precisa tomar anticoagulante

Os pacientes que têm fibrilação atrial precisam conhecer o seu risco de AVC e se há necessidade de tomar anticoagulante. Acompanhe a tabela abaixo para saber o seu risco. Sempre que o risco for maior ou igual a 2, há necessidade de tomar o anticoagulante para afinar o sangue e diminuir o risco de AVC. Por exemplo, nos pacientes com FA com idade igual ou maior que 75 anos, o risco é 2 o que indica a necessidade de tomar o remédio. Se o paciente for do sexo feminino e tiver entre 65 e 74 anos, o risco é 2 e também há necessidade do remédio para afinar o sangue.  Avalie o seu risco utilizando a tabela abaixo e discuta com seu médico a necessidade de tomar anticoagulante.

 

 

Tabela 1 – Fatores de Risco de AVC em Pacientes com Fibrilação Atrial

Fator de Risco Risco
Coração Dilatado 1
Hipertensão (pressão alta) 1
Maior de 75 anos de idade 2
Diabetes (açúcar no sangue) 1
Stroke (AVC) 2
Vasculopatia (Infarto Prévio, Doença nas Artérias da Perna) 1
Idade entre 65 – 74 anos 1
Sexo Feminino 1

Ficou intessado e quer ouvir um pouco mais sobre arritmia cardíaica? Click aqui e assista a entrevista que o Dr. Andrei Lewandowiski deu para o Jornal do Almoço em Blumenal/SC, transmitida pela NSCTV em 2024.